terça-feira, 16 de novembro de 2010

E agora, damas e cavalheiros, uma breve introdução ao seu ilustre anfitrião...

Eu sou um filhote dos anos 90, e cresci nesse universo de Sessão da Tarde e fita cassete. Assistir filmes pra mim era uma compulsão desde que eu era moleque, mesmo que esse meu vício fosse direcionado especificamente pros desenhos animados. Por alguma razão eu tinha essa concepção de que tudo que era desenho era por definição bom e engraçado, mesmo que eu não entendesse nada. Outro fator determinante era o quão politicamente incorreto era o desenho: quanto mais escatológico, violento e cheio de insinuações eróticas ele fosse, mais vívida e prazerosa era a diversão familiar que ele proporcionava. Muitos desenhos infantis que eu via seguiam mais ou menos esse linha, uns mais que outros: Ren & Stimpy, A Vida Moderna de Rocko e A Vaca e o Frango são exemplos clássicos. Mas os que realmente faziam uma jornada além da fronteira do politicamente correto eram essas pérolas daquela safra de noventa-e-pouco, como Beavis & Butthead, South Park, os já veteranos Simpsons, e até o então recém-nascido Family Guy. Se me derem licença, eu vou estravasar um pouquinho da minha nostalgia revoltada e mencionar o seguinte: dessas séries todas, as que não acabaram ficaram ridículas, repetitivas e simplesmente sem graça. Hoje em dia, a moda da animação adulta é o humor nonsense e sem criatividade direcionado para o público "stoner", que eles acham que vai rir de qualquer coisa. Mas naquela época a animação adulta era retardada de um jeito muito, muito digno e sem pretensão, e foi boa o bastante pra marcar a infância de pelo menos um cara.

Eventualmente eu por alguma razão mudei de ideia em relação aos filmes "adultos", e aí comecei a querer assistir filmes com atores. Vai ver foi porque eu tinha chegado naquela idade em que "desenho é coisa de criança". Comecei a ver filmes de terror, que isso sim era coisa de adulto. Desnecessário dizer que o meu cagaço durante o filme era indescritível, mas ninguém podia saber. O papo era sempre na linha do "Ah, aí eu assisti Sexta-Feira 13 pela décima vez ontem, mas nem dá medo", esperando conquistar a admiração dos meus coleguinhas, a qual eu nunca consegui por razões óbvias. Na onda de assistir filmes de terror na esperança de ficar adulto mais cedo, eu por sorte acabei vendo muitos filmes grotescamente bons, e descobri a magia do cinema B. O que será que tinha de tão cativante em todos aqueles galões de sangue "suco de tomate", ou nas tripas que pareciam macarronada? O que é que tinha de tão engraçado naquelas histórias sem sentido, nas cenas de sexo súbitas e desnecessárias, nas mortes ridículas e inverossímeis dos personagens? Acho que até hoje eu não sei, mas tá tudo lá pra ser degustado.

Treze anos. É nesse ponto da sua vida que você tem que decidir se você vai ser um moleque ou homem. E adivinha qual dos dois eu era? Um homem, é claro, porque eu ouvia metal e via filmes de zumbi. Cinema "sério"? Nem fudendo. Cinema "sério" é chato. Porque é que eu vou querer ver um filme bom, se eu posso ver um tão ruim que é bom? Só quem assiste esses filmes é gente velha que nem os meus pais e os amigos deles. Ao invés disso eu vou ficar aqui vendo esses filmes nojentos que só eu sou macho o bastante pra assistir sem nem pestanejar, e contemplar a minha própria macheza. Ah, se eu encontrasse eu mesmo naquela época eu juro que eu ia me dar tanta porrada... Mas tudo bem, deixa o moleque ser moleque.

Os anos passaram, e por mais que a minha idade mental não tenha avançado muito, eu sou forçado a reconhecer que o meu gosto amadureceu de verdade. Tive muita ajuda de amigos que entendem do assunto, e até dos meus pais, que me mostraram que as obras-primas e o trabalho dos grandes diretores tinham muito a ver com os filmes que eu gostava. Conheci Kubrick através da boa e velha ultraviolência. O terror psicológico de David Lynch. Conheci Hitchcock em meio a suspense e facadas. Sergio Leone ao som de tiros e riffs de guitarra. Enfim, conheci todo um novo universo dentro do cinema, e aí comecei a dar valor ao que presta. Dei uma chance aos clássicos, ao cinema de arte e ao independente decente. Cheguei à conclusão que o cinema é um território que vale a pena ser desbravado. Agora claro, por melhor que isso tudo seja, nada disso nunca vai superar a minha paixão por filmes B, cinema trash e terror dos anos 50.

Ok, então meio que em virtude disso eu criei esse espaço. Sendo o fã demente de cinema que eu sou, eu peço licensa para usar este espaço para recomendar filmes que eu gosto, comentar eles e com alguma esperança arrumar algum leitor que queira discutir sobre o que eu postar aqui. O mais importante, porém: A única coisa que eu gosto mais do que cinema é a música. Basicamente tudo que eu mencionar aqui vai ter alguma influência musical de uma forma ou de outra. Se tem uma coisa que eu sei é que a música e o cinema formam um par perfeito. São o Bonnie e Clyde do universo das artes. Enfim...

Senhoras e senhores, devido à natureza excepcionalmente chocante da apresentação que estão prestes a assistir, somos por motivos de força maior levados a educadamente instruí-los a prezar por sua própria segurança. Aqueles dos cavalheiros aqui presentes que porventura sofram de problemas cardíacos, crises nervosas ou mesmo aversão a terror intenso e realismo explícito são alertados a se retirar imediatamente do recinto. Quem é macho pode ficar, e boa sessão.

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